Amor Em Guerra

Não tenho muito a falar sobre esse texto… demorei, mas acabei… hehehe

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Seis de junho de 1944. Tropas americanas, britânicas e inglesas invadiam a França, pela Normandia, a fim de começar a retomada da ordem na Europa praticamente dominada pelos nazistas. Este dia ficaria marcado na história mundial como o Dia-D; e traria de volta a esperança para milhares de pessoas confinadas em campos de refugiados.

Ele estava no bar do Restaurante de Pavillon de Gouffern, a menos de dez quilômetros a noroeste da cidade de Argentan e cerca de 50km ao sul das praias onde um cenário irreal tomara conta alguns dias anteriormente. Tomava um conhaque para ajudá-lo a esquecer o incômodo no braço esquerdo, após o habitual jantar às 19:00 em ponto. O grande relógio de madeira na parede do grande salão fez soar suas nove badaladas, quando ele avistou-a. Ela caminhava em sua direção sem notar os sons e luzes das explosões não muito distantes dali, talvez mesmo nos arredores do Chateaux. Maurizio, um milionário italiano que decidira morar no interior da França logo após a tomada do poder de seu país, em 1923, pelos fascistas, havia comprado o castelo, construído no século 16, pois o considerava impenetrável para os compatriotas fascistas (eles não viriam tão longe apenas para capturá-lo). Os nazistas, que ocupavam todo território francês, não lhe tomaram o castelo por um simples motivo: pagara-lhes uma grande quantia em dinheiro, obras de arte e ouro para que os generais que comandavam os regimentos instalados na região mantivessem seus soldados do lado de fora da mansão. Por inúmeras vezes, vira barracas e fogueiras acesas durante as noites nos bosques de sua propriedade, mas considerava aquilo como uma proteção pessoal que os generais lhe prestavam. Mesmo com isto em mente, mantinha o controle sobre os convivas que ali se hospedavam, pessoalmente. Era ele quem sempre estava na recepção, dando-lhes as boas-vindas.

A mulher que vinha em sua direção olhava-o nos olhos; seus cabelos negros, cacheados, balançavam suavemente à medida que caminhava. Apesar de não se lembrar dela entrando em seu hotel, não cogitava que ela pudesse se tratar de uma compatriota. Ela parecia confiante, dominante e sorria… seus lábios eram grossos e brilhavam à meia luz produzida pelas velas do local. Usava um longo vestido cor de vinho, com uma saia armada até os calcanhares, que esvoaçava a cada passo, e um decote insinuante no colo, fazendo seus seios ressaltarem o belo colar de pérolas que ostentava no pescoço. Suas mãos suspendiam parte das vestes para lhe dar maior mobilidade. Maurizio tomou o último gole de seu conhaque e colocou o copo na pequena mesa de apoio ao seu lado. Tentou erguer-se para cumprimentá-la, mas foi empurrado de volta a sua cadeira com força, fazendo seu copo cair e desfazer-se em cacos pelo chão. Duas serviçais apareceram rapidamente para ver o q havia acontecido, mas foram logo dispensadas por um simples gesto dele; saíram e, ao barulho da porta fechando às suas costas, ela inclinou-se em sua direção, encostando seus lábios no ouvido dele. Sem dizer uma palavra, ela beijou-lhe o ouvido e afastou-se.

Maurizio continuou sentado, perplexo por não saber o que estava para acontecer ali… gostava de ter controle sobre tudo que o cercava: sentia-se mais seguro assim. Colocou a mão direita para baixo da poltrona, onde guardava uma velha espingarda, resquício da Primeira Guerra Mundial e, sabendo que já estava carregada, engatilhou-a por motivos de segurança. A mulher afastou-se alguns passos, piscou para um senhor careca sentado à beira de um grande piano de cauda no outro lado da sala e, ao começar a música, passou as mãos para trás do vestido; com este movimento, ele agarrou o mosquete, mas continuou com ele escondido atrás do couro da velha poltrona. A mulher aproximou-se dele com o torso inclinado e os ombros projetados para frente, o colar pendia, formando uma janela para Maurizio assistir aos fartos seios que tentavam, em vão, escapar de seu confinamento. Ela colocou sua perna direita sob o braço da poltrona, puxou as vestes para revelar uma meia-calça preta, desfez o primeiro nó, nas suas costas, que sustentava o vestido, fazendo o decote abrir-se um pouco mais. Suas mãos, agora, passeavam sobre a perna que estava à mostra, baixando lentamente a fina malha até quase o calcanhar, sob o olhar atento de Maurizio. Ele fez menção de tocar a perna dela com a mão esquerda, mas foi repelido com dois passos para trás.

A mulher puxou as pequenas mangas do vestido para os lados, fazendo com que seus seios sustentassem parte dos tecidos e seu colo ficasse parcialmente à mostra. Movimentando o quadril, suas vestes foram descendo caprichosamente, acariciando e revelando generosas curvas. Suas mãos ajudavam-na a se desvencilhar das roupas, mas, aos olhos dele, ela parecia estar-lhe apenas provocando. Maurizio, a estas horas, já esquecera de todos seus temores e aproveitava o que o destino lhe reservara. Levantou-se e caminhou até ela; em um movimento abrupto, agarrou-a pela cintura; brincava com o corpo da mulher a sua frente, passando suas mãos primeiramente pelo pescoço, então pelos ombros e braços dela; atentou-se um pouco nas mãos e, descendo mais um pouco, puxou uma das pernas dela ao seu encontro. Ao ser puxada, envolveu a cintura dele com sua coxa e, como em um passo de tango, inclinou-se para trás. Desse modo, o vestido dela já estava na altura da cintura, restando apenas um espartilho preto moldando-a. No piano, o velho começara a tocar um tango, inspirado pelos últimos movimentos do casal. Maurizio abaixou-se sobre o corpo dela, praticamente encostando seus lábios no queixo dela, pegou-a pela mão, passou a outra por trás de sua cintura e puxou-a para cima rigorosamente; beijaram-se.

Estampidos de bombas e saraivadas de tiros acompanhavam luzes, assustando o velho pianista que, sem pensar duas vezes, correu para o seu quarto, deixando os dois amantes a sós e ao silêncio. Maurizio, como adorador de música, puxou-a até o piano, onde se sentou, dando-lhe as costas. Começou a tocar com destreza… ela postou sua cabeça no ombro esquerdo dele, passou os braços para frente e começou a acariciar-lhe o peito, desabotoando sua camisa. Maurizio sentiu-a sussurrando em seus ouvidos palavras que não compreendia, mas seu tom de voz era anestésico e seu incômodo no braço já se dissipara. Janelas começaram a se partir com tiros ao redor dos dois; parecia que o castelo não se salvaria da invasão. Já havia quase três semanas da invasão da Normandia, e as tropas aliadas avançavam para o sul e leste da França, repelindo os nazistas, mas não sem batalha e muitas baixas. Ruídos de aviões acompanhavam explosões dos bombardeios, gritos e saraivadas de tiros. O sol ainda estava alto no céu de verão, as nuvens estavam avermelhadas, como que refletindo a sanguinolência da guerra. Tropas pareciam estar invadindo o castelo, o que fez com que ele pulasse da cadeira e tentasse, de sobressalto, correr para sua poltrona, onde ainda descansava sua espingarda. Porém, fora impedido pela mulher, que colocara a mão no peito dele e, com este simples gesto, fizera com que ele esquecesse os barulhos a sua volta. Maurizio abraçou novamente a mulher e a beijou, enquanto soldados adentravam no restaurante, pilhando os mantimentos e destruindo o que não conseguiam carregar, para não deixar alimentos para o inimigo… mas ele estava estático, curvado sobre a mulher, beijando-a… não notou a invasão das tropas nem os soldados notaram os dois ali… Ela segurou-lhe a nuca, repeliu o beijo dele e, ao seu ouvido, sussurrou em um tom que congelou-lhe do ouvido até a base da espinha:

– Eu estou aqui para te levar, você sobreviveu à Primeira, mas não à Segunda Grande Guerra… Maurizio, acompanhe-me até onde sua eternidade o aguarda.

E, assim, calmamente, Maurizio o fez

 

Amor em Guerra

08/07/2007

2 responses

16 07 2007
mahs2love

Há!

Ficou maravilhoso… me surpreendeu .. 😀
Eu acho que é hora de escrever o meu ;x

1 08 2007
Gents alho

O que aconteceu com os teus pseudônimos? Tu nunca escreveu com o teu nome, guri!!!

abração

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